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Ivandro Monteiro – EME Saúde

Ivandro Monteiro - profile

Psicólogo desde 2000, é especialista em “Psicologia Clínica” e “Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações”, com especialidade avançada em “Psicoterapia” e membro efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É fundador e Director da EME Saúde desde 2011, Associate Partner da CROWE (Corporate Behavioural Consultancy) e Professor Universitário há mais de uma década no ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar).

Tem formação completa em Psicoterapia Interpessoal (grau E, International Society for Interpersonal Psychotherapy, USA) e Psychological Coach (membro da International Society for Psychological Coaching, UK). É doutorado em Psicologia Clínica e Mestre em Ciências Cognitivas (Universidade do Minho), com formação pós-graduada em Epidemiologia e Estatística (Faculdade Medicina do Hospital de S. João).Tem 2 pós-graduações, em Gestão (IPAM / ANJE) e outra em Economia Digital (Atlântico Business School). Trabalha com clientes particulares e empresariais, desde executivos, CEOs, administradores, gestores, profissionais liberais, entre outros, tendo já ultrapassado mais de 23 mil sessões individuais com os seus clientes desde 2000. Tem 2 livros publicados e um 3º terceiro a caminho, com vários artigos científicos em revistas com revisão de pares e artigos de opinião.

Como a ciência do comportamento potencia a produtividade nas empresas

Economia e Psicologia são áreas do conhecimento muito mais próximas do que se imagina. A premissa básica comum é a de que a nossa natureza nem sempre é racional, pelo que as nossas escolhas são, demasiadas vezes, baseadas em questões subjetivas, pessoais e culturais, ao ponto de poderem pesar mais mais do que a racionalidade, principalmente quando agimos sem grande reflexão, ou seja, por impulso.

Ora, sustentar a economia e planos de negócios de uma empresa apenas assente em intervenientes racionais e exclusivamente lógicos, corre o risco de se ignorarem as pessoas que alavancam o crescimento e transformam os sonhos em realidades.

Temos, assim, de aceitar que as Pessoas entram nas empresas com uma história de vida própria, de famílias sui generis e outras envolvências, que as influenciam nos seus estilos de personalidade e formas de comunicação, e que vão relacionar-se entre si no seio da empresa, com todas as inerentes vulnerabilidades e resiliências.

Qualquer que seja a inovação, implica entrar em novos territórios e conquistas, pelo que, garantidamente, vamos “comprar” riscos de errar, conflitar, entristecer, irritar, perder e ganhar. Quero com isto dizer que a nossa natureza não funciona apenas por lógica ou razão, mas sob influência inconsciente ou implícita de preconceitos, valores culturais, histórias de vida e emoções que são condicionadas pelos contextos envolventes e tipo de pessoas que nos rodeiam.

Compreender a aura com que cada um vê o seu mundo é a verdade individual do próprio.

Nesse sentido, as verdades de cada um num grupo criam um ambiente organizacional que tanto pode potenciar a produtividade e a facturação, como também prejudicá-la. Compreender o impacto destas variáveis comportamentais na empresa, através de ferramentas cientificamente sustentadas e medidas com KPIs (Key Performance Indicators) permite, por isso, ganhar mais com as mesmas pessoas.

Analisando ao detalhe a literatura científica – porque sem detalhe e objectividade de dados da investigação só temos opiniões e isso não serve as empresas de forma sistemática – sabemos que uma em cada dez pessoas sofre, pelo menos, de uma doença mental, o que representa 30% do peso global de doenças que não são fatais. Num estudo publicado na revista Lancet Psychiatry (2016), sobre o retorno de investimento quando as empresas agem sobre a saúde mental e riscos psicossociais dos seus colaboradores, os dados são evidentes sobre os ganhos que há, quer para as empresas, quer para a economia de um país. Nesta investigação sobre os custos do tratamento e benefícios em 36 países de baixo, médio e alto rendimento entre 2016 e 2030, os dados mostram que o retorno compensa largamente o custo.

Ivandro Monteiro - body

O custo que as empresas têm em diagnosticar e intervir sobre os riscos psicossociais e saúde mental é de 128 mil milhões de Euros. Ao fazê-lo, e recuperando a saúde mental dos trabalhadores, a força de trabalho aumenta 5% e a produtividade alcança 349 mil milhões de Euros. Esta escolha dos decisores dentro das empresas, aumenta o retorno pela melhoria na saúde mental em 271 mil milhões de Euros. Tendo em conta que o investimento é de 128 mil milhões, compreende-se o ganho significativo do mesmo. Dito de forma ainda mais objectiva e fácil de entender, a estimativa que a Organização Mundial de Saúde faz, pela primeira vez, sobre os benefícios nas empresas e na economia, mostra que, por cada 1 Euro investido, ganham 4 Euros pela recuperação da saúde mental e capacidade de trabalho (publicado na revista The Lancet). Ao nível europeu, os dados evidenciam também que o custo anual do stress associado ao trabalho foi estimado em 20 mil milhões de Euros, e 50-60% do absentismo está directa ou indirectamente ligado ao stress.

Estou certo que, se as empresas ganhassem este dinheiro e o tivessem que pagar, estariam muito atentas a esta realidade, mas como esse dinheiro nunca entrou nas empresas, os empresários não têm consciência do que perdem de produtividade e do que podiam ganhar, com as mesmas pessoas.

Hoje, a Psicologia das Organizações enquanto ciência comportamental, tem ferramentas cientificamente sustentadas para ajudar as empresas a agir e melhorar a sua produtividade. Por exemplo, numa estimativa de custos perdidos por não controlarem os riscos psicossociais, uma empresa de 30 pessoas perde, anualmente, cerca de 25 mil Euros (Ordem dos Psicólogos Portugueses – maisprodutividade.org).

Citando Zig Ziglar, “não podemos acertar num alvo que não vemos, nem podemos ver um alvo que não temos”. Acções de teambuilding, formações, palestras motivacionais, Coaching, etc., só por sensibilidade dos cargos de direcção, apesar de louvável, não têm diagnóstico “clínico”, o que acaba por ser pouco cirúrgico para, de facto, agir sobre o que são os riscos psicossociais e de saúde mental dentro das empresas.

Sem um diagnóstico diferencial objectivo com base na avaliação individual subjectiva de cada funcionário, não se consegue fazer uma intervenção adequada. Quando muito, paliativa. Mas o que queremos é eficácia para competir no mundo complexo e volátil actual, para não sermos ultrapassados.

Podemos concluir que ouvir cada um (bottom up), juntando a visão de todos, quantificando cientificamente e com intervenções estruturadas com base na ciência do comportamento de excelência, é a melhor ferramenta que o mercado hoje tem disponível para as empresas que escolhem ir mais longe.

“Os agentes centrais da Economia são as Pessoas que, por isso mesmo, são previsíveis e propensas a errar” Richard Thaler (Prémio Nobel da Economia, 2017).

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